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Publicado em Nov 27, 2006

A morte do Alpinista Bruno Carvalho e a falta de apoio dos companheiros

Acabo de ver a reportagem do Jornal da noite da SIC sobre a expedição de alpinistas portugueses ao Shisha Pangmasic, no Tibete.

Bruno Carvalho, um dos expedicionários morreu, quando descia do cume a oito mil metros. O alpinista fazia parte da equipa de portugueses, liderada por João Garcia, que se lançou no mês passado à conquista de um dos picos do Mundo.

Percebo pouco de alpinismo. Apenas pratiquei duas vezes na vida e algumas outras mais Canyoning.

Parece-me a mim que uma das regras fundamentais do alpinismo é nunca subir montanhas sozinho.
Pareceu-me a mim que, na altura da subida ao cume, estavam todos em grupo 3 alpinistas portugueses e um sherpa para o qual aquilo é apenas um mero passeio.

Pareceu-me a mim que, nessa subida, o Bruno Carvalho, que estava mais lento, foi deixado ficar para trás devido à ânsia dos outros dois para chegar lá a cima antes que escurecesse.

Pareceu-me a mim que chegaram, fizeram a festa (inclusive a foto da praxe com a bandeira do Millennium BCP), não esperaram por ele e voltavam para trás.

Pareceu-me a mim que quando se cruzaram com ele deverão ter trocado sentimentos do género: “Nós já lá fomos, é um espectáculo! Tu vem connosco para baixo, esquece lá isso pá, és muito lento.” O Bruno portanto, seguiu sozinho, como qualquer pessoa com o mínimo de estima pessoal.

Pareceu-me a mim que, mesmo sabendo que era tarde e que o companheiro estava sozinho e visível desde o campo, foram comer para dentro das tendas e esqueceram o assunto.

Pareceu-me a mim que só quando começaram a achar que ele já estava a demorar muito tempo é que resolveram meter a cabeça fora da tenda e o viram caído, já morto, a 400 metros da tenda.

Pareceu-me a mim que, mesmo assim, pensaram primeiro que ele estava a brincar e não correram de imediato para lá.

Corrijam-me se eu estiver errado no que me “pareceu” e se estiver peço desde já desculpa pelo que vou dizer a seguir.

Mas se, infelizmente não estiver, onde está o altruísmo, a honra, a dignidade, a nobreza, a amizade? Eu sei, são sentimentos cada vez mais difíceis de encontrar mas, pelo menos os jornalistas que fizeram a reportagem, tinham a responsabilidade de ser pessoas atentas.

É que, pela maneira como a reportagem está feita e, principalmente a maneira como estão montadas as declarações, dá a impressão de tudo o que me pareceu acima.

João Garcia é um alpinista experiente e respeitado. E o respeito não se ganha de um dia para o outro, constrói-se com o tempo. Quero acreditar que a culpa de tudo o que me “pareceu” é culpa dos jornalistas e da reportagem.

Mas, tal como eu, muitas outras pessoas poderão ter ficado com a ideia errada.

Eu sou cliente do MilleniumBCP há muitos anos. Com que ideia fico agora dos valores que o meu banco defende? Que vale tudo para alcançar um fim?

Por favor, no país do fado de traje negro, exige-se uma reportagem de investigação esclarecedora.