Publicado em Ago 6, 2005

Venda-se a Nação, porque eu quero é o meu carro novo!

Defender a honra e a pátria, lutar e até mesmo morrer por um ideal, são sentimentos que os jovens associam hoje em dia a três tipos de pessoas: a fundamentalistas que põem bombas, a protagonistas de filmes de acção e de jogos de computador e alguns, muito poucos, aos heróis dos nossos livros de história. Portanto, tudo ficção.

Escreve José António Saraiva no editorial do Expresso de 06/08/05 que Portugal estaria à beira de um golpe militar não fosse o caso de estarmos integrados na Comunidade Europeia. Concordo e acrescento e não fosse também o caso dos jovens e líderes de hoje estarem a marimbar-se (desculpem o termo, mas podia ter usado outro ainda pior) para a política, para os políticos e ao fim e ao cabo, para a situação e o futuro do Pais.

Na situação critica em que nos encontramos, todos se preocupam mas ninguém pretende, de facto, tomar atitudes drásticas e draconianas para “pôr isto na ordem”, ao seja, falta a essência de um golpe militar. É que todos estão muito mais preocupados com o seu próprio bem-estar imediato, incluindo os militares!

Ironicamente, nunca conseguir levar para a frente um golpe militar deve ser o único aspecto positivo do nosso laxismo. Meter mãos há obra, dar o corpo ao manifesto é que ninguém está para isso. Ponham os olhos na Auto Europa. Há uns anos e para evitar o pior, os trabalhadores concordaram em receber menos. Resultado? Acabou de receber mais um contrato para fazer o novo Golf Cabrio.

Os exemplos vêm de cima, e para políticos como Durões e Santanas e empresários como …., os lemes são os umbigos. É preciso que sejam os “velhos”, gente como Cavaco Silva ou Mário Soares a perceber que o bem-estar imediato é ilusório e que a brincadeira, um dia, acaba mal.

Imaginemos, por hipótese (remota?!), o fim do Euro. Portugal, com o fim da indexação fixa do Escudo ao Euro, verá a sua moeda nacional cair subitamente no abismo. A nova valorização do escudo em relação, por exemplo à peseta, será catastrófica. A queda será abismal.

É só lembrar o que aconteceu na Argentina que tinha a sua moeda irrealistamente indexada ao dólar. É preciso dizer mais? E então, àquela piada que por certo já receberam por e-mail com um anúncio de jornal que diz “vende-se país”, deverá ser acrescentado “em liquidação total!”.

No desespero e posta na bandeja a possibilidade de nos empenharmos aos espanhóis, para que “todo va bien”, temo que a solução escolhida será a mais fácil. É preciso nunca esquecer que, já na revolução de Abril, só meia dúzia de tiros foram disparados, para que a vidinha do costume pudesse continuar sem nos chatearmos muito.