Publicado em Jan 3, 2005

Ainda 2004. O que ficou de 2004?

1. Tal como qualquer imigra, o nosso primeiro-ministro, José Manuel Barroso, abandonou o país à procura de melhor sorte. Triste sorte, a da nossa viúva pátria, que já não é suficientemente atraente?! Não. Acredito antes que existem cada vez mais maus políticos incapazes de defender outro ideal que não seja o dinheirinho no bolso. Assim sendo, o gesto arratazanoado de abandonar a nossa barcaça lusa foi um bom gesto! Quanto mais longe, melhor.

2. O senhor que se seguiu foi Santana Lopes. É preciso dizer alguma coisa?! A não ser, talvez, que fui testemunha, mais do que uma vez, da sua entrada sorrateira pela cozinha para o privado de uma discoteca bem conhecida da Kapital. Ser visto pela elite é uma coisa, ser visto pelo povo é outra. E também ouviram por certo aquela outra história deliciosa em que, de férias no Algarve, o personagem mandou parar as obras na sua rua para poder dormir. Ainda propôs a mudança do horário, mas parece que as construtoras recusaram ter os homens a trabalhar até às 4 da manhã. Aplica-se o referido acima, quanto mais longe melhor.

3. Tivemos também o Euro2004. Como não sou apreciador, vou-me abster de comentar. Refiro apenas que nada serve tanto para levantar o ego deste pequeno povo do que umas vitórias no futebol. Venham elas. Não acreditam? É porque nunca jogaram ao Sim City. Sem estádio de futebol, ninguém tem alegria no trabalho! Tá provado, não?

4. George Walker Bush foi eleito para a Presidência dos EUA. Se só votassem todos os americanos com mais de dois neurónios, nunca seria eleito. Todos os outros foram brilhantemente manipulados no obsessivo jogo de estratégia de Karl Rove.

5. Também Vladimir Putin foi reeleito. Tenho só um comentário a fazer. Certo dia, chegava a casa e liguei o televisor, passava pouco das 8 e queria seguir as notícias. A imagem era muito comum. Um pobre homem prostrado, esfarrapado e sujo, nítida e recentemente espancado, era ladeado por dois brutamontes, encapuçados e também entrapados, com muito mau aspecto e de kalashnikov em punho. Um de cada lado.
Não tive dúvidas: mais um sequestro no Iraque. Mas não, estava muito longe da verdade.
Tinha havido o ataque à escola primária de Beslen, na Ossétia do Norte e o “pobre homem” era nada mais, nada menos do que o primeiro suspeito. Mas quando se confunde os agentes da autoridade com terroristas, algo vai muito mal nesse país.
Por falar em Terrorismo, a Espanha ficaria para sempre marcada, em 2004, pelo 11-M.

6- O fim do ano foi palco ainda de mais uma catástrofe natural sem precedentes. O terramoto que assolou a Ásia e as ondas devastadores e gigantescas que se lhe seguiram. Para a posteridade ficar-me-ão para sempre as palavras de uma turista portuguesa que embarcou de férias para a Tailândia alguns dias depois; respondia, se bem me lembro, que tinha pena de ir naquela altura, porque, as condições não iam ser as melhores e tinha pago a tarifa normal. No entanto, ia conseguir ver as coisas “mais ao natural”. Forcei-me durante vários dias a acreditar que, paralisada com a câmara de televisão, aquela “criatura” simplesmente tinha deixado de pensar e algumas palavras aleatórias foram saindo sem qualquer entendimento nem sentido. Quero continuar a acreditar que as pessoas não são assim.